Ontem, quando eu disse que estava indo para um mosteiro pensar na vida, me perguntaram se eu tenho interesse em religiões africanas, eu disse que não. Minha experiência com o voodoo foi horrível. Existe muito preconceito com as religiões africanas no Brasil, mais do que quaisquer outras, porque fala-se pouco sobre elas e com pouca pesquisa. A quimbanda, o xangô do nordeste, o candomblé, a encantaria e a umbanda por exemplo são diferentes entre si, mas todas me metem o mesmo medo. São religiões que te colocam em contato com as suas emoções mais perigosas. Eu tenho a minha profunda curiosidade, mas respeito o meu medo e tenho alguns amigos que se identificam e praticam alguns desses rituais.
Esse “afro-samba” - Amigo senhor, saravá, /Xangô me mandou lhe dizer /Se é canto de Ossanha, não vá/Que muito vai se arrepender /Pergunte ao seu Orixá, o amor só é bom se doer/Pergunte ao seu Orixá o amor só é bom se doer/Vai, vai, vai, vai, amar /Vai, vai, vai, sofrer /Vai, vai, vai, vai, chorar /Vai, vai, vai, dizer –revela muito sobre a busca do sagrado nas religiões afro. E é isso que as religiões orientadas pelo objetivo do transe (quase todas) fazem, elas exploram os sentimentos. As igrejas católicas e evangélicas que se dizem “renovadas” tem influencia afro, especialmente afro americana. É mistura muito interessante.
Nos Estados Unidos, quando o protestantismo chegou ao país. negros americanos reunidos na rua Azusa em Los Angeles, EUA no inicio do século XX começaram a fugir da liturgia, batendo palmas, dançando, mostrando alegria e alcançando manifestações espirituais que logo justificaram como sendo um “batismo de fogo”, um pentecostes enfim. Isso tudo não foi aceito pelas igrejas históricas e quando essa divisão aconteceu, poucos anos depois a “Assembléia de Deus” chegou ao Brasil sendo aceita principalmente em regiões de periferia. Eu penso que essas coisas foram absolutamente importantes para a popularização do novo cristianismo, que ficou mais festivo e mais preocupado em “curar”, são religiões terapêuticas. Muita coisa mudou desde essas primeiras décadas do século XX, surgiu a musica gospel que acabou por influenciar o rock.
Eu disse a uma amiga que não queria ser “batizada pelo Espírito Santo”, acho perigoso. Quando eu vejo as pessoa s falando em Kundaline, as pessoas falando em ogum, as pessoas falando em “espírito santo” eu penso que estão falando da mesma coisa. Esse espírito santo buscado pela canção nova, pelo desejo de falar línguas estranhas é mexer com “fogo” . Essa é uma busca muito particular: perder o controle, se entregar. Algumas religiões monoteístas não são religiões que te incentivam a entrar em contato com a sua natureza, são religiões que te ensinam a entrar em contato com Deus e buscar a perfeição. É claro que existe a preocupação em “ascender” o corpo e a alma para qualquer religioso, mas para um religioso tradicional seja no oriente seja no ocidente o mais importante é o caminho do meio, é a constância. As religiões africanas ativam a amígdala, o córtex, através do tálamo. Isso, essa combinação de fatores pode fazer com que o seu nível de consciência se concentre a um só sentimento, isso é poderoso, e é por isso que eu digo sempre que é perigoso. Explorar as emoções ( o que simplesmente explorar o seu cérebro de forma selecionada) como uma fada, “uma emoção de cada vez” pode te levar a estados de consciência muito alterados com representação mais aguda da realidade e diversos padrões neurais. O que eu busco hoje é uma religião de equilíbrio, mas não sei se ela existe realmente.
O importante, como diz o poeta: "é manter a espinha ereta, a mente quieta e o coração tranquilo". O resto vem a reboque, é um não me toque e o que eu quero eu vivo! Desejo que tenha bons resultados em sua empreitada!
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