Entre tanta publicidade desnecessária para a candidatura da Dilma (PT), de um lado, e tantas questões políticas a respeito da possibilidade de eleição do Serra (PSDB), de outro, tenho observado o quanto a vitória da candidata do Partido Verde (PV) seria interessante do ponto de vista cultural porque ela tem, em essência, o perfil do brasileiro. Tem a posição do partido que escolheu, tem uma característica muito própria que é a clareza de idéias (coisa rara de se ver na política) e somado a isso; uma capacidade de atuação muito forte.
A história da Marina é pouco conhecida e é uma biografia de muito esforço próprio e muito crescimento, mas não é sobre isso que eu quero falar. Sem essa de “ela merece chegar lá” porque não se trata disso. É que ela sabe o que fazer. Ela tem programa de governo, preocupação com educação, saúde, política externa e planos sólidos para um enriquecimento do país que pode gerar trabalho e empregos de forma intensiva desenvolvendo novos setores da economia.
Então, “para não dizer que não falei das flores” o pensamento dela é verde. Isso é claríssimo. Marina Silva tem se destacado como uma personalidade que defende um Brasil ecologicamente sustentável e isso até a imprensa percebe. Mesmo assim, injustamente, muitos jornalistas rasos e mal informados vêm repetindo que ela é a candidata de “uma nota só”. Acontece que o coração (sabe? A mente, a intenção e projeto dela) não está na Amazônia, nem no Acre, nem no legislativo, nem no executivo, nem no poder, nem no Partido dos Trabalhadores, nem no Partido Verde ou sequer no discurso ecológico.
O entendimento que essa brilhante mulher tem dos problemas do Brasil é realmente profundo. A vontade que ela tem de orientar os brasileiros, seja os que estarão na cúpula do governo, seja o próprio povo é de uma humildade impressionante. E sei disso porque uma vez consegui uma entrevista com ela que acabou sendo bastante longa. Nessa época eu trabalhava numa TV e nem sabia que ela viria se tornar candidata à presidência da república, mas provoquei dizendo que gostaria de votar nela. Muito depois descobri que meu tio, também jornalista (Zacharias Bezerra) muito envolvido com as propostas da chamada Agenda 21 também votaria nela, em seguida descobri que uma colega de trabalho, que é filiada a outro partido (do Ciro Gomes) também resolveu votar nela. Hoje vejo que todos os meu amigos também estão com ela. Meus pais e quase todos que eu conheço. Nessa trajetória de descobrir tanta gente que me garante que quer eleger a Marina não sei mais o que pensar das tendências de campanha. Então me pergunto, será que ela tem chances reais ou sou eu que estou sonhando alto, apenas porque ela é minha favorita? E será que o teremos um resultado no primeiro turno?
Então, recentemente conheci uma atriz muito cheia opiniões sobre a política brasileira. Me atrevi a perguntar em quem ela votaria. Ela me disse: Marina! Eu respondi um sorridente “eu também”, ao que ela acrescentou: e a Marina é uma mulher de Deus. Isso também me fez concluir que essa é uma observação muito brasileira, mas muito brasileira mesmo. Eu expliquei a essa atriz que apesar de não ter uma fé religiosa eu enxergava na Marina uma pessoa de ética. E pensando mais além ainda, me lembrei que apesar de estarmos em um país constitucionalmente laico, o brasileiro é particularmente monoteísta! Podemos até somar: Católica Apostólica Romana 73,6 % Protestantes 15,4 %, Espíritas 1,3 %. Isso sem contar muçulmanos e neo-cristãos de todos os tipos, o que me faz até perder as contas diante das estatísticas confusas do IBGE.
Parece haver uma certa coerência do ponto de vista eleitoral. Dizem que o brasileiro vota na personalidade política e não no partido. E um eleitorado que acredita em “Deus” tende a escolher uma pessoa com atitudes de “Deus”. Contudo esse raciocínio não pode ser tão exato porque jamais existiu tempo para que o grande público entenda as concepções de crença, descrença ou filosofia de vida de seus candidatos. Isso vai ficando oculto. Nenhum bom político sai revelando sua religião ou contrariando grupos e instituições sociais. Todavia, cada político, antes ou depois da eleição poderá ser visto em toda e qualquer roda, aparentemente conivente com todos os tipos de pensamentos.
Afinal, em que cada presidente acreditava? Em que? No milagre econômico? Nas indústrias da Ford? Na Petrobras? No padre da sua cidade natal? No Papa? No Dalai Lama? Na felicidade geral da nação? No cotidiano dos eventos políticos não olhamos para esse pequenos detalhes. A história se encarrega disso, mas os jornais não nos deram esse tipo de informação. Assim como os jornais não entenderam (ainda) quem é Marina Silva e o quanto ela é firme nesse tal “ethos social”. É a imagem daquela velha fusão ação/discurso. Princípios simples. Princípios claros. Certamente, se você pudesse mesmo conhecê-la, notaria tudo isso com facilidade. Segundo o dicionário Michaelis, ‘princípios’ são “regras de (boa) conduta pelas quais alguém governa as suas ações”. É aquilo que fica incrivelmente notável em qualquer decisão. O que é a política senão a arte de decidir e influenciar, influenciar e decidir? Ops! Está chegando a hora. Estamos mesmo próximos da decisão. Ao mesmo tempo, ainda estamos em águas de março. As eleições serão na primavera.
Alaise Beserra
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