Foram algumas semanas sem escrever, mas voltei para comentar um assunto muito sério que voltou ao meu pensamento após algumas novas leituras. Assunto sério e um destino ainda muito temido: aquele malvado castigo eterno. Sobre ele todos já, de alguma forma, ouviram falar. Ainda muito pequena eu aprendi a temer essa maldição e vejo muitos adultos (meus adultos, quase todos que me cercam) que insistem em guardar certezas inabaláveis de tal existência fantástica e impiedosa. Podemos observar que o inferno é esteticamente diferente para cada época, religião e ganha interpretações que se divergem mesmo entre o próprio cristianismo.
Na mente ocidental mais ingênua e clássica uma fogueira interminável com “diabos-chefes” atormentando incessantemente seus habitantes para “sempre” é o retrato mais fiel do lugar reservado aos que não foram salvos. Contudo, alguns “papas” introduziram também a idéia de um pré-inferno, esse sim passageiro e mais brando em seus sofrimentos que apesar disso não depende do condenado para acabar e sim das preces recebidas. E é exatamente essa idéia de purgatório que foi rejeitada por Lutero (século XV) que acabou por protagonizar a reforma protestante. Para um Luterano, o inferno é apenas um estado de espírito no qual existe uma ausência absoluta de Deus. Por outro lado, para Santo Agostinho (século IV) a experiência é mais cruel. Ele entendia que o fogo penetraria sob a pele das almas de forma material, mas sem nunca se consumir e ainda acrescentava a essa sentença detalhes sórdidos como a presença de vermes e serpentes que estranhamente penetram em seus corpos “até as medulas” e estarão neles passeando de tal forma que “um mergulho na cratera de um vulcão poderia ser até um refrigério”.
Mas essa idéia de calor intenso nem sempre foi a única afirmação sobre “o futuro dos que não foram aceitos no céu”. Há também a concepção de um inferno oposto, onde todos sentem muito frio! Para os nórdicos o inferno é gelado. Há também por aí, muitas descrições (século XX) de pessoas que dizem ter “descido” em sonho ao inferno e escrevem livros (estúpidos, rasos e não recomendáveis, mas que eu já li...) que dizem, por exemplo, que o inferno também seria um monstro e seus moradores andam de uma parte a outra dentro do corpo da criatura sentindo seus odores fétidos e agonizando em meio ao cenário opressor com barulhos horríveis para resto de seus dias que jamais terão fim.
Também encontra-se na literatura descrições de mergulhos em sangue e outras formas de tortura. Nas referências islâmicas (século XII) podemos encontrar relatos sobre correntes que arrastam seus presos pelo pescoço para que “os renegadores da fé” passem por um quase enforcamento bastante doloroso. Isso está escrito em Alcorão 73:12-13. No inferno pagão descrito pelo poeta Homero (século VIII a.C.), as acusações feitas aos maus homens bastavam para que sentissem em seus corações as amarguras de reconhecer a inutilidade de seus erros mais severos. Os Deuses permitiam que os mais arrependidos e lamentosos ficassem abandonados às incessantes agonias trazidas pela própria razão. No entanto, aos mais embrutecidos, reservavam-se infinitas atividades infernais.
É fácil perceber que todas essas elaborações não passam de uma sombra do que é possível imaginar de degradação humana na terra. Não há um outro mundo, não há outras formas de castigo que não aquela que é concebível para esse planeta. Ops! A não ser para os hindus... Até aqui eu estava falando desse lado do mundo, da nossa cultura, mas para as escrituras védicas são muitos outros mundos. Muitos céus, muitos infernos, muitas formas de vida (inclusive extraterrestre e na terra também temos seres desconhecidos, seres encantados e cada ser é uma alma), então existem aqueles lugares que são lugares de muito sofrimento e pouco entendimento “das coisas superiores” e (quem não diria?) a terra é um deles! Uau. Isso me lembra a musica do Caetano sobre o Haiti. Mas, segundo o movimento Hare Krishna (século XIX), todos esses lugares são passageiros porque estamos sempre renascendo e tendo a chance de evoluir e chegar à perfeição. Eis aqui a única e última palavra que liga todas as idéias de deus e de salvação e de inferno que eu tenha compreendido.
Parece que para todas as crenças esse é o objetivo: atingir a perfeita forma de vida. E o que vem antes de se chegar lá são formas de ilusão, de engano, de pecado, de deturpação, de imitação, de vaidade, de cansaço, de infelicidade, de impureza, de ignorância, de escuridão, de afinal, imperfeição em maior ou menor grau. Encontrei apenas uma religião para quem todos esses infernos se convertem em mentira. São os Testemunhas de Jeová (século XIX). Para eles não há castigo eterno. Deus é realmente bom e fará com você o que você pedir. Todos poderão escolher entre a vida eterna na terra, a vida santa no céu, ou ainda, como terceira alternativa, a interrupção da consciência que seria o verdadeiro significado do castigo do “Hades”: o fim de quem não quer viver para sempre. Eu que sempre quis ser Highlander e nunca acreditei que deus fosse injusto só posso concluir que, se ele existe, não vai me me torturar e nem permitir que isso aconteça com nenhuma das suas criaturas, especialmente não para sempre. Se já nos basta as frustrações desse mundo from hell, piorar não pode ser. Minha opinião: inferno é coisa que colocaram na sua cabeça. Melhor não levar ao pé da letra e não repassar a lenda adiante. Quantas crianças seriam poupadas?
Alaise Beserra
Alaise30@hotmail.com
Na mente ocidental mais ingênua e clássica uma fogueira interminável com “diabos-chefes” atormentando incessantemente seus habitantes para “sempre” é o retrato mais fiel do lugar reservado aos que não foram salvos. Contudo, alguns “papas” introduziram também a idéia de um pré-inferno, esse sim passageiro e mais brando em seus sofrimentos que apesar disso não depende do condenado para acabar e sim das preces recebidas. E é exatamente essa idéia de purgatório que foi rejeitada por Lutero (século XV) que acabou por protagonizar a reforma protestante. Para um Luterano, o inferno é apenas um estado de espírito no qual existe uma ausência absoluta de Deus. Por outro lado, para Santo Agostinho (século IV) a experiência é mais cruel. Ele entendia que o fogo penetraria sob a pele das almas de forma material, mas sem nunca se consumir e ainda acrescentava a essa sentença detalhes sórdidos como a presença de vermes e serpentes que estranhamente penetram em seus corpos “até as medulas” e estarão neles passeando de tal forma que “um mergulho na cratera de um vulcão poderia ser até um refrigério”.
Mas essa idéia de calor intenso nem sempre foi a única afirmação sobre “o futuro dos que não foram aceitos no céu”. Há também a concepção de um inferno oposto, onde todos sentem muito frio! Para os nórdicos o inferno é gelado. Há também por aí, muitas descrições (século XX) de pessoas que dizem ter “descido” em sonho ao inferno e escrevem livros (estúpidos, rasos e não recomendáveis, mas que eu já li...) que dizem, por exemplo, que o inferno também seria um monstro e seus moradores andam de uma parte a outra dentro do corpo da criatura sentindo seus odores fétidos e agonizando em meio ao cenário opressor com barulhos horríveis para resto de seus dias que jamais terão fim.
Também encontra-se na literatura descrições de mergulhos em sangue e outras formas de tortura. Nas referências islâmicas (século XII) podemos encontrar relatos sobre correntes que arrastam seus presos pelo pescoço para que “os renegadores da fé” passem por um quase enforcamento bastante doloroso. Isso está escrito em Alcorão 73:12-13. No inferno pagão descrito pelo poeta Homero (século VIII a.C.), as acusações feitas aos maus homens bastavam para que sentissem em seus corações as amarguras de reconhecer a inutilidade de seus erros mais severos. Os Deuses permitiam que os mais arrependidos e lamentosos ficassem abandonados às incessantes agonias trazidas pela própria razão. No entanto, aos mais embrutecidos, reservavam-se infinitas atividades infernais.
É fácil perceber que todas essas elaborações não passam de uma sombra do que é possível imaginar de degradação humana na terra. Não há um outro mundo, não há outras formas de castigo que não aquela que é concebível para esse planeta. Ops! A não ser para os hindus... Até aqui eu estava falando desse lado do mundo, da nossa cultura, mas para as escrituras védicas são muitos outros mundos. Muitos céus, muitos infernos, muitas formas de vida (inclusive extraterrestre e na terra também temos seres desconhecidos, seres encantados e cada ser é uma alma), então existem aqueles lugares que são lugares de muito sofrimento e pouco entendimento “das coisas superiores” e (quem não diria?) a terra é um deles! Uau. Isso me lembra a musica do Caetano sobre o Haiti. Mas, segundo o movimento Hare Krishna (século XIX), todos esses lugares são passageiros porque estamos sempre renascendo e tendo a chance de evoluir e chegar à perfeição. Eis aqui a única e última palavra que liga todas as idéias de deus e de salvação e de inferno que eu tenha compreendido.
Parece que para todas as crenças esse é o objetivo: atingir a perfeita forma de vida. E o que vem antes de se chegar lá são formas de ilusão, de engano, de pecado, de deturpação, de imitação, de vaidade, de cansaço, de infelicidade, de impureza, de ignorância, de escuridão, de afinal, imperfeição em maior ou menor grau. Encontrei apenas uma religião para quem todos esses infernos se convertem em mentira. São os Testemunhas de Jeová (século XIX). Para eles não há castigo eterno. Deus é realmente bom e fará com você o que você pedir. Todos poderão escolher entre a vida eterna na terra, a vida santa no céu, ou ainda, como terceira alternativa, a interrupção da consciência que seria o verdadeiro significado do castigo do “Hades”: o fim de quem não quer viver para sempre. Eu que sempre quis ser Highlander e nunca acreditei que deus fosse injusto só posso concluir que, se ele existe, não vai me me torturar e nem permitir que isso aconteça com nenhuma das suas criaturas, especialmente não para sempre. Se já nos basta as frustrações desse mundo from hell, piorar não pode ser. Minha opinião: inferno é coisa que colocaram na sua cabeça. Melhor não levar ao pé da letra e não repassar a lenda adiante. Quantas crianças seriam poupadas?
Alaise Beserra
Alaise30@hotmail.com
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