quinta-feira, 25 de março de 2010

Quem engole um cargo padece de indigestão

As instituições educacionais, especialmente as públicas, estão diante de um problema muito grave. Algumas das pessoas que ganharam funções relativamente grandes dentro da hierarquia do executivo, a exemplo disso qualquer coordenador de uma escola pública, pode tornar-se o pior exemplo para os seus “subordinados”. Porque quem chega nesses postos (qualquer posto), sem ética, sem conhecimento de causa, sem instrução ou mesmo sem equilíbrio, pode até desejar não apenas mandar, mas humilhar, destruir, prender, e em última instância fazer algo ainda mais estúpido ou criminoso. Ontem (25 de março) eu senti esse risco de perto. Tinha apenas combinado de me encontrar com uma amiga que estuda Centro Interescolar de Línguas de Brasília (CIL) ligado ao Elefante Branco e ao encontrar a porta aberta no andar debaixo e depois subir, procurei saber na guarida se as aulas daquele horário estavam no fim e o guarda me permitiu entrar. Logo alguns dos coordenadores e ou professores tentaram me ajudar e me disseram qual era o número da sala que eu poderia encontrar minha amiga.


Mas logo uma das coordenadoras, que estava muito irritada, me seguiu e me exigiu que eu me apresentasse na sala dela. Então eu respondi que não, eu estava com pressa e só queria mesmo aguardar a minha amiga numa sala de espera. Foi aí que tomei um susto, pois não era só isso! Ela queria me dizer que era uma autoridaaaaaaaaaaaaaaade e que ela mandava em todos ali e queria muito, muito mesmo conversar comigo. Mas não era uma pessoa querendo conversar comigo, mas parecia alguém querendo me algemar. Talvez seja melhor mesmo termos conquistado a proibição de armas. Uma pessoa, seja autoridade ou seja poder político ou administrativo, por menor que seja pode fazer estragos que atingem todos à sua volta.

E essa coordenadora do CIL de Brasília estava a ponto de me bater quando insistiu que queria conversar comigo. E eu despreocupada e distraída respondi que não era necessário. Até entendo a fúria dela a vontade de chamar atenção e mostrar quem ela era, ora, não se tratava mais de me identificar, mas se tratava de fazer um discurso vitoriano, teatral de alguém que sabe gritar e ganhar o silêncio de uma platéia assustada e atônita. É uma fraqueza, resultado de uma carência, emocional, social, talvez sexual, mais evidentemente política e até mental. São os pequenos burgueses amantes da soberba. Essa tendência para a arrogância é o grande risco. Esse princípio pode levar qualquer um para qualquer atitude injusta e depois para o próximo passo, a corrupção completa em nome de ninguém mais porque nesse estagio “os fins já justificam os meios”. E isso é maldoso.

No meu caso a minha audácia vai só até onde a lei permite. Como cidadã estou sempre no meu direito de ir e vir. E se conheço a constituição não temo autoridades pelo contrario eu me sento com elas eu posso conversar e respeitar e ser respeitada. Posso até tentar ser bastante humilde com pessoas que estão em crise histérica ou obedecer o velho conselho, " Para que um louco não se enfureça, não tente contrariá-lo, só tente imitá-lo. " A palavra “arrogantia” do latim ‘insolência, orgulho, presunção’, parece “tentar” metaforicamente os que ainda não aprenderam a ser pessoas nobres mas já se acham nobres. Eles estão tão enganados que acabam por fazer o contrário.

Essa moça que me parecia menos instruída que os professores e pessoas subordinadas a ela (que também ficaram assustados) não me disse quem ela era, nem me perguntou como eu consegui entrar no prédio do CIL de Brasília. Perguntou se eu entendia onde eu estava. Então eu respondi que estava no Elefante Branco, mas ela ainda mais cheia de raiva, me respondeu que aquilo era uma escola de línguas. Eu sabia sim. Quem não conhece o CIL? Mas comecei a me calar e tentar entender o que ela queria de mim. Ela disse que queria conversar comigo e que eu deviria apresentar a identidade e segui-la até a sala dela. Mas a cara era de quem queria, no mínimo, me algemar! Isso chamou atenção de alguns alunos e professores que logo formaram uma roda perto dela e de mim sem compreender nada. Eu pedi à minha amiga, vamos embora? Infelizmente, ela estava com medo. Eu desafiei que medo é esse? E pedi socorro a um professor perguntando: será que não posso ir embora? Então é o caso de pedir um Hábeas corpus!!!

Mas ele que é um subordinado a ela, que me conhece de muitos “carnavais” e que mora inclusive perto da minha casa, me convenceu que eu mostrasse a identidade. E mostrei. Isso não bastou para ela não. Ela levou o professor, a minha amiga e eu para uma salinha, a sala é tão interessante que tinha até uma ilustração de um dos meus artistas preferidos, Norman Rockwell, que provavelmente ela não conhece a não ser de forma muito rasa. Então eu pedia para ir embora. E dizia, agora está tudo bem, é só isso, não é? E ela continuava aborrecida nos mantendo presos naquela sala.

Decidiu que iria chamar um batalhão pra mim. Claro, o autoritarismo tolo e rancoroso não consegue respeito, só consegue ameaçar. Foi aí que o professor começou a tremer e minha amiga a tentar me manter calada e rendida. Acontece que eu não me rendo. E tentando ser até branda em minha pergunta disse que talvez, se fosse o caso, ela poderia revistar a minha bolsa. Mas isso ainda não bastou, ela queria uma cena maior, queria ser não só um personagem de um desentendimento, mas estava disposta a pagar ou patrocinar os aplausos.

Tinha chegado aos pensamentos mais megalomaníacos e julgou que eu era “apenas” uma universitária arrogante. Ao que expliquei que não, não eu já estava formada em graduação. De todo modo ela se sentiu intimidada e perguntou, você se acha melhor do que eu, eu tentando ser paciente e calma disse que não, que só estava no meu direito de ir e vir e tinha um compromisso e por isso tinha sido tão displicente no inicio, uns 45 minutos antes. Mas queria assinar qualquer coisa e ir embora. Ela não permitiu. E chamou o batalhão, (pessoas que costumo achar que são bravas), mas que para a minha surpresa entenderam logo a confusão. E queriam me liberar, mas ela não estava satisfeita. Mandou que levassem minha identidade, queria cópias para “os autos”. Quer me processar e me ensinar o que é uma “autoridade”. Meu crime seria o "desacato"...

Nesse momento eu fiquei mais tranqüila. Agora eu estava mesmo bem, apesar de indignada diante de um dos professores de inglês mais interessantes de Brasília. Pessoa muito querida e responsável. Ele tentou me ajudar, me repreendendo. Pior é que estava também sendo vítima de uma cena ridícula, demorada e até deprimente. Ele tem muitos amigos, é maduro e de certo modo popular. Poderia passar de professor à ministro da educação em poucos meses ou anos. Ele entendeu tudo e até disse algumas coisas que me fizeram ficar mais quieta, claro. Onde poderíamos chegar com aquela discussão? Ele viu que a minha coragem podia provocar a ira mais doente dela, nem sei o nome dela. Não quero saber, nem os alunos sabem, depois confirmei que poucos sabem quem é ela. Porque "ela" se acha o cargo. Adora o cargo e provavelmente procura conhecer verdadeiros adoradores do cargo. Eu não gosto da ética dessas pessoas brutas e sem refinamento. Falam inglês, falam português, francês mas para se dedicar apenas a uma linguagem do “eu tenho, eu mando, eu posso te fazer abaixar a cabeça”. No entanto nem isso conseguiu de nenhum de nós. Não me intimidei. E ela vai mais longe para tentar. Me ameaçou e prometeu me processar por desacato de autoridade. Ela que decorou a palavra autoridade sem se atentar para o dever da razoabilidade. Não discuti mais.

Assinei a ata com a observação de que sei sim quem ela serve. (Nem ela sabia). Tive que explicar que escolas estão ligadas ao Ministério da Educação e consequentemente ao executivo, que por sinal é governo. E informei afinal que não só li a constituição, como é sobre ela que eu estava falando naquele momento. Não devo, não temo, não brigo e se quiser eu explico. Posso me explicar sempre. É uma pena que ela me fez perder um evento importante, que não pude ir e isso é muito grave, uma questão juridica. Por outro lado, ainda mais grave que isso é que as escolas estejam cheias de pessoas sem mansidão ou noções básicas de pedagogia. Quando o “batalhão", de 4 homens, me liberou ela ainda queria “conversar comigo”. E disse, muito violentamente, “me admira que você seja uma jornalista. Você não viu que aqui temos grades? Você não viu que numa escola nem todos são bem vindos?”.

E sabe, quando você já está atrasado? Você se acalma. E nesse tenso momento quase toquei Raul , ao vivo. Poderia, chocada, até cantar, (e quase cantei ); eu nasci há 10 mil anos atrás ... e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais... Mas preferi tentar não estragar mais nada, chega de ser audaciosa. Somente devolvi a admiração. Também me admira “muito” que uma educadora, que leu Paulo Freire, consiga ser tão agressiva e cheia de ira”. E fui embora. Finalmente! Até perdoei tanta carência de atenção, tanto fel, tanta incapacidade para o diálogo. Era só despreparo mesmo. Eu não tenho medo dos arrogantes, minha mãe não tem, meu pai também não, minha avó menos ainda. Nossa geração (nascida na década de 80) não tem mais medo da palmatória ou da colher de pau da ignorância ingênua e imbecilizada pela falta de leitura dos seu próprios códigos de regência. Temos no máximo, respeito e amor. E vejo alguns de nós dispostos ao desafio de um cargo público. È um serviço sério e importante, embora possa ser um passo largo para caminhar na fogueira das vaidades. É o risco que se corre. Essa mulher tão desconhecida, se acha mesmo poderosa e caiu nessa vã percepção do seu próprio papel. Ela visivelmente sofre com isso. É uma pena. Essas pessoas são aquela pedra no meio do caminho. Mas não esqueça quem você é meu caro leitor. Se você sabe quem você é, está tudo resolvido. A cabeça se mantem erguida e serena.

Alaise Beserra

domingo, 21 de março de 2010

Eleições no Brasil: votos para o mais "de deus"

Entre tanta publicidade desnecessária para a candidatura da Dilma (PT), de um lado, e tantas questões políticas a respeito da possibilidade de eleição do Serra (PSDB), de outro, tenho observado o quanto a vitória da candidata do Partido Verde (PV) seria interessante do ponto de vista cultural porque ela tem, em essência, o perfil do brasileiro. Tem a posição do partido que escolheu, tem uma característica muito própria que é a clareza de idéias (coisa rara de se ver na política) e somado a isso; uma capacidade de atuação muito forte.

A história da Marina é pouco conhecida e é uma biografia de muito esforço próprio e muito crescimento, mas não é sobre isso que eu quero falar. Sem essa de “ela merece chegar lá” porque não se trata disso. É que ela sabe o que fazer. Ela tem programa de governo, preocupação com educação, saúde, política externa e planos sólidos para um enriquecimento do país que pode gerar trabalho e empregos de forma intensiva desenvolvendo novos setores da economia.

Então, “para não dizer que não falei das flores” o pensamento dela é verde. Isso é claríssimo. Marina Silva tem se destacado como uma personalidade que defende um Brasil ecologicamente sustentável e isso até a imprensa percebe. Mesmo assim, injustamente, muitos jornalistas rasos e mal informados vêm repetindo que ela é a candidata de “uma nota só”. Acontece que o coração (sabe? A mente, a intenção e projeto dela) não está na Amazônia, nem no Acre, nem no legislativo, nem no executivo, nem no poder, nem no Partido dos Trabalhadores, nem no Partido Verde ou sequer no discurso ecológico.

O entendimento que essa brilhante mulher tem dos problemas do Brasil é realmente profundo. A vontade que ela tem de orientar os brasileiros, seja os que estarão na cúpula do governo, seja o próprio povo é de uma humildade impressionante. E sei disso porque uma vez consegui uma entrevista com ela que acabou sendo bastante longa. Nessa época eu trabalhava numa TV e nem sabia que ela viria se tornar candidata à presidência da república, mas provoquei dizendo que gostaria de votar nela. Muito depois descobri que meu tio, também jornalista (Zacharias Bezerra) muito envolvido com as propostas da chamada Agenda 21 também votaria nela, em seguida descobri que uma colega de trabalho, que é filiada a outro partido (do Ciro Gomes) também resolveu votar nela. Hoje vejo que todos os meu amigos também estão com ela. Meus pais e quase todos que eu conheço. Nessa trajetória de descobrir tanta gente que me garante que quer eleger a Marina não sei mais o que pensar das tendências de campanha. Então me pergunto, será que ela tem chances reais ou sou eu que estou sonhando alto, apenas porque ela é minha favorita? E será que o teremos um resultado no primeiro turno?

Então, recentemente conheci uma atriz muito cheia opiniões sobre a política brasileira. Me atrevi a perguntar em quem ela votaria. Ela me disse: Marina! Eu respondi um sorridente “eu também”, ao que ela acrescentou: e a Marina é uma mulher de Deus. Isso também me fez concluir que essa é uma observação muito brasileira, mas muito brasileira mesmo. Eu expliquei a essa atriz que apesar de não ter uma fé religiosa eu enxergava na Marina uma pessoa de ética. E pensando mais além ainda, me lembrei que apesar de estarmos em um país constitucionalmente laico, o brasileiro é particularmente monoteísta! Podemos até somar: Católica Apostólica Romana 73,6 % Protestantes 15,4 %, Espíritas 1,3 %. Isso sem contar muçulmanos e neo-cristãos de todos os tipos, o que me faz até perder as contas diante das estatísticas confusas do IBGE.

Parece haver uma certa coerência do ponto de vista eleitoral. Dizem que o brasileiro vota na personalidade política e não no partido. E um eleitorado que acredita em “Deus” tende a escolher uma pessoa com atitudes de “Deus”. Contudo esse raciocínio não pode ser tão exato porque jamais existiu tempo para que o grande público entenda as concepções de crença, descrença ou filosofia de vida de seus candidatos. Isso vai ficando oculto. Nenhum bom político sai revelando sua religião ou contrariando grupos e instituições sociais. Todavia, cada político, antes ou depois da eleição poderá ser visto em toda e qualquer roda, aparentemente conivente com todos os tipos de pensamentos.

Afinal, em que cada presidente acreditava? Em que? No milagre econômico? Nas indústrias da Ford? Na Petrobras? No padre da sua cidade natal? No Papa? No Dalai Lama? Na felicidade geral da nação? No cotidiano dos eventos políticos não olhamos para esse pequenos detalhes. A história se encarrega disso, mas os jornais não nos deram esse tipo de informação. Assim como os jornais não entenderam (ainda) quem é Marina Silva e o quanto ela é firme nesse tal “ethos social”. É a imagem daquela velha fusão ação/discurso. Princípios simples. Princípios claros. Certamente, se você pudesse mesmo conhecê-la, notaria tudo isso com facilidade. Segundo o dicionário Michaelis, ‘princípios’ são “regras de (boa) conduta pelas quais alguém governa as suas ações”. É aquilo que fica incrivelmente notável em qualquer decisão. O que é a política senão a arte de decidir e influenciar, influenciar e decidir? Ops! Está chegando a hora. Estamos mesmo próximos da decisão. Ao mesmo tempo, ainda estamos em águas de março. As eleições serão na primavera.

Alaise Beserra

domingo, 14 de março de 2010

O frágil fogo imaginário: apague agora mesmo

Foram algumas semanas sem escrever, mas voltei para comentar um assunto muito sério que voltou ao meu pensamento após algumas novas leituras. Assunto sério e um destino ainda muito temido: aquele malvado castigo eterno. Sobre ele todos já, de alguma forma, ouviram falar. Ainda muito pequena eu aprendi a temer essa maldição e vejo muitos adultos (meus adultos, quase todos que me cercam) que insistem em guardar certezas inabaláveis de tal existência fantástica e impiedosa. Podemos observar que o inferno é esteticamente diferente para cada época, religião e ganha interpretações que se divergem mesmo entre o próprio cristianismo.

Na mente ocidental mais ingênua e clássica uma fogueira interminável com “diabos-chefes” atormentando incessantemente seus habitantes para “sempre” é o retrato mais fiel do lugar reservado aos que não foram salvos. Contudo, alguns “papas” introduziram também a idéia de um pré-inferno, esse sim passageiro e mais brando em seus sofrimentos que apesar disso não depende do condenado para acabar e sim das preces recebidas. E é exatamente essa idéia de purgatório que foi rejeitada por Lutero (século XV) que acabou por protagonizar a reforma protestante. Para um Luterano, o inferno é apenas um estado de espírito no qual existe uma ausência absoluta de Deus. Por outro lado, para Santo Agostinho (século IV) a experiência é mais cruel. Ele entendia que o fogo penetraria sob a pele das almas de forma material, mas sem nunca se consumir e ainda acrescentava a essa sentença detalhes sórdidos como a presença de vermes e serpentes que estranhamente penetram em seus corpos “até as medulas” e estarão neles passeando de tal forma que “um mergulho na cratera de um vulcão poderia ser até um refrigério”.

Mas essa idéia de calor intenso nem sempre foi a única afirmação sobre “o futuro dos que não foram aceitos no céu”. Há também a concepção de um inferno oposto, onde todos sentem muito frio! Para os nórdicos o inferno é gelado. Há também por aí, muitas descrições (século XX) de pessoas que dizem ter “descido” em sonho ao inferno e escrevem livros (estúpidos, rasos e não recomendáveis, mas que eu já li...) que dizem, por exemplo, que o inferno também seria um monstro e seus moradores andam de uma parte a outra dentro do corpo da criatura sentindo seus odores fétidos e agonizando em meio ao cenário opressor com barulhos horríveis para resto de seus dias que jamais terão fim.
Também encontra-se na literatura descrições de mergulhos em sangue e outras formas de tortura. Nas referências islâmicas (século XII) podemos encontrar relatos sobre correntes que arrastam seus presos pelo pescoço para que “os renegadores da fé” passem por um quase enforcamento bastante doloroso. Isso está escrito em Alcorão 73:12-13. No inferno pagão descrito pelo poeta Homero (século VIII a.C.), as acusações feitas aos maus homens bastavam para que sentissem em seus corações as amarguras de reconhecer a inutilidade de seus erros mais severos. Os Deuses permitiam que os mais arrependidos e lamentosos ficassem abandonados às incessantes agonias trazidas pela própria razão. No entanto, aos mais embrutecidos, reservavam-se infinitas atividades infernais.
É fácil perceber que todas essas elaborações não passam de uma sombra do que é possível imaginar de degradação humana na terra. Não há um outro mundo, não há outras formas de castigo que não aquela que é concebível para esse planeta. Ops! A não ser para os hindus... Até aqui eu estava falando desse lado do mundo, da nossa cultura, mas para as escrituras védicas são muitos outros mundos. Muitos céus, muitos infernos, muitas formas de vida (inclusive extraterrestre e na terra também temos seres desconhecidos, seres encantados e cada ser é uma alma), então existem aqueles lugares que são lugares de muito sofrimento e pouco entendimento “das coisas superiores” e (quem não diria?) a terra é um deles! Uau. Isso me lembra a musica do Caetano sobre o Haiti. Mas, segundo o movimento Hare Krishna (século XIX), todos esses lugares são passageiros porque estamos sempre renascendo e tendo a chance de evoluir e chegar à perfeição. Eis aqui a única e última palavra que liga todas as idéias de deus e de salvação e de inferno que eu tenha compreendido.
Parece que para todas as crenças esse é o objetivo: atingir a perfeita forma de vida. E o que vem antes de se chegar lá são formas de ilusão, de engano, de pecado, de deturpação, de imitação, de vaidade, de cansaço, de infelicidade, de impureza, de ignorância, de escuridão, de afinal, imperfeição em maior ou menor grau. Encontrei apenas uma religião para quem todos esses infernos se convertem em mentira. São os Testemunhas de Jeová (século XIX). Para eles não há castigo eterno. Deus é realmente bom e fará com você o que você pedir. Todos poderão escolher entre a vida eterna na terra, a vida santa no céu, ou ainda, como terceira alternativa, a interrupção da consciência que seria o verdadeiro significado do castigo do “Hades”: o fim de quem não quer viver para sempre. Eu que sempre quis ser Highlander e nunca acreditei que deus fosse injusto só posso concluir que, se ele existe, não vai me me torturar e nem permitir que isso aconteça com nenhuma das suas criaturas, especialmente não para sempre. Se já nos basta as frustrações desse mundo from hell, piorar não pode ser. Minha opinião: inferno é coisa que colocaram na sua cabeça. Melhor não levar ao pé da letra e não repassar a lenda adiante. Quantas crianças seriam poupadas?

Alaise Beserra
Alaise30@hotmail.com