quinta-feira, 23 de junho de 2011

Confissões de meu tio Zacha: economia no Brasil


No inicio do século XX, um grande economista chamado Schumpeter escreveu em seu ensaio A Teoria do Desenvolvimento Economico, que os prazeres superiores deste mundo tem seu custo e que “a atividade econômica pode ter qualquer motivo, até mesmo espiritual, mas seu significado é sempre a satisfação de necessidades”. Portanto se alguém não tem necessidade, não tem mais nada. Muito estranho sempre me pareceu essa conversa de que o importante nesse mundo é ser e não é ter. Como diria minha avó: conversa! As pessoas costumam se orgulhar de repetir isso. E para parafrasear o “As Confissões de meu tio Gonzaga” (livro altamente recomendável e escrito por Luís Jardim) meu tio Zacharias caiu nessa.

Ele que é praticamente um hippie, que é jornalista e como todos eles, metido a contador de histórias e a filosofo de internet, (tudo bem são bons vícios) faz parte do que eu chamo de núcleo Itamaraty da família, já que meu pai tem muitos irmãos e alguns deles passaram pelo Ministério das Relações Exteriores ou ainda estão por lá. Um dia desses, eu disse ao meu tio que eu estava abandonando a profissão por estar muito preocupada com a minha vida financeira, então ele me jogou essa conversa também. Respondi que pra quem tinha uma vida boa ficava fácil dizer que “ter” não “tem” muita importância e foi aí que ele aprofundou o seu discurso sobre a pouca importância da vida material e me contou um monte de histórias para explicar o porquê dos porquês, mas nunca me convenceu. Claro que não. Cedo na vida eu descobri: dinheiro não é antônimo de virtude.

O número de brasileiros que tem pavor da riqueza me assusta. Posso atribuir essa aversão ao fato de que para um cristão pouco esclarecido a tradução para o português, (que veio do inglês, que veio do alemão, que veio do grego, que veio do Hebraico) para a famosa frase bíblica sobre as possibilidades de alcance do céu troque “avarento” simplesmente por “rico”! Entendendo “avarento” etimologicamente podemos interpretar como “pessoa tacanha”. Desse modo o texto (inesquecível) fica assim na memória popular: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. E assim, fica parecendo literalmente que “ter muito” vai ser algo muito mal. Nos meus silenciosos e desesperados estudos, descobri que agulha era apenas uma antiga porta. E tudo isso me sugere que basta ser “grande” para entrar no paraíso, o que também se traduz por “ser nobre” ou “ter generosidade” ou ainda “ter elevação” ou também "nunca seja um camelo".

No Brasil é muito comum que as pessoas se orgulhem de dizer que nunca tiveram nada, que a vida foi só trabalho e que nunca sobrou nada. Elas ficam até com vergonha de dizer que sobrou. E se não sobrou nada é porque não se guardou nada. Muitos estão dispostos a tirar 40% do que ganham para financiar um carro em muitas prestações, outros dão 10% para igreja e não fazem poupança (o mais modesto dos muitos tipos de investimentos). E no cotidiano das contas pra pagar, o dinheiro se destaca como na publicidade do cartão de crédito: determinadas coisas não tem preço. Para todas as outras, use Master Card. Detalhe nem sempre calculado,afinal ninguém quer se ver como consumista.

Todos precisam de médicos, roupas, livros, cosméticos, cinema, teatro, música, cursos, para além do básico; pagar impostos, fazer supermercado, trocar o colchão velho, sair com os amigos. A verdade é que nem todos têm o que é preciso para uma vida tranquila e feliz e a indústria de tudo vai segmentando todo mundo – Classe E: vive com menos de 2 dólares por dia, Classe D: vive com menos de dois salários mínimo por mês, Classe C: vive com menos de 6 salários mínimos por mês, Classe B: vive com menos de 30 salários mínimos por mês, Classe A: essa eu apenas diria que vive! Como diz uma amiga minha: pobre vive é de teimoso. E mais grave é que pobre não guarda dinheiro, nem sabe o que é fundo de renda fixa. Muito mais grave é que existem produtos feitos pra você, exatamente para quem você escolheu ser e não para o tamanho do seu bolso! Por exemplo, a Avon, que foi feita para uma determinada “classe”, ganhou um mercado não previsto e cresceu para todos os lados. Explicação: uma pessoa pode ser público alvo do Boticario _ a vida é bonita, mas pode ser linda_ mas preferir Givenchy_ Absolutely Irresistible_ E economizar para poder comprar seus produtos.

Não importa muito aquilo que você conseguiu comprar, mas o que você não conseguiu geralmente é um problema que te frustra e aí você fica ou está ou é (ser, estar, permanecer, ficar) frustrado. Dinheiro só não é importante quando não fez falta. Se eu pudesse te dar um conselho agora eu te diria: não seja pobre, prefira usar Lâncome mesmo. Ser uma pessoa melhor nunca significou dispensar o que é bom. A vida é cara e o desenvolvimento do ser é mais caro ainda. Aqui ou na China. As boas escolas não são baratas. Aliás, conheci por incrível acaso um dono de uma escola importante em Brasília, muito rico e muito espiritualizado e que me incentivou a continuar sonhando em construir uma escola. Quem sabe serei dona de uma escola. Quem sabe terei uma escola. Parece um negócio, mas pra mim é quase uma missão. Vou acabar lançando uma campanha de levantamentode fundos, mas antes preciso estudar mais. Quero pagar pra ver, ou seria para ter? Do alto dos meus estudos, (muito mundanos) sobre a espiritualidade, “ser” e “ter” conjugam a mesma ideia.

Alaise Beserra: alaise30@hotmail.com