sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Reforma Trabalhista" não reforma nada

Me enrolei um pouco na última quinta-feira, mas estou aqui com o meu comentário semanal. Quem leu o texto da proposta apresentada no Congresso talvez tenha se indignado com o tom minimalista das próváveis mudanças e há, ainda assim, um grande debate entre os que estão do lado da CNI, para quem quanto mais horas de trabalho obrigatorias, melhor e os que estão do lado dos direitos trabalhistas para quem concorda que se o salario não pode subir significativamente, o descanso pode sim aumentar. É uma verdadeira guerra de argumentos por uma imperceptivel redução de 44 horas semanais para 40. Desonesta, para dizer o mínimo.
Sei que muitos novos ricos trabalham hoje 3 ou 4 horas por dia. E que temos tecnologia suficiente para que a jornada de trabalho seja diminuida pela metade. O Brasil ganharia muitos empregos se as empresas estivessem dispostas a reconhecer que muitas horas são mera procrastinação. E mesmo a indústria e comercio para quem até os minutos de trabalho fazem diferença no lucro, a divisão do trabalho em turnos de 3 não seria nada impossível e claro, criaria mais empregos. Isso acontece em muitos países da Europa onde os turnos são menores e os salários são mais equilibrados em termos de igualdade. É verdade que em 2008 houve um retrocesso. Os franceses, que em 2000 reduziram sua carga horária de trabalho semanal para 35 horas, na esperança de gerar mais empregos, voltaram atras comprando o discurso de que o horário menor seria pior para economia. Infelizmente , agora o limite aceito na União Européia é de 48 horas por semana. Mas a coisa é pior no japão. Tenho um colega que trabalhou para a nokia fazendo controle de lentes e chegou a fazer uma jornada de 18 horas por dia... O que me incomoda é que de um modo ou de outro a conta fecha. Mesmo que as empresas ganhem um pouquinho menos, digamos 1,5% menos. E dái? Quando as pessoas falam que não se encontram, que estão "na correria". Do que elas estão falando? Que seu tempo é para o trabalho. E quem ganha com o nosso grande investimento de tempo e dedicação em relação ao "trabalho": os mercados de capitais! Há que se pensar que a vida parece cada vez mais vazia porque vivemos em função da roda da fortuna no sentido mais reduzido do termo. Para onde tanto corremos? E quantos desempregados geramos?
Outra questão fundamental e legítima: para onde vai o dinheiro produzido com o aumento da tecnologia e dos lucros? É claro que vai para quem menos precisa: o mercado de capitais!
A CNI anda dizendo em entrevistas e jornais (e nos lobbys que os deputados compram) que a CLT é autoritária e fascista. Mentira. A CLT foi inspirada nas convenções mundiais do trabalho existentes, nas encíclicas papais e no programa da “revolução de 30”. E olha que não sou anarquista, sou a favor da existencia do "estado democratico de direitos" sabendo que a maioria sempre decide e que a maioria e sempre é convencida por alguém (e que são poucas as chances que o alguém seja eu) contudo, prefiro isso. Entretanto acredito que se as pessoas trabalhassem menos, mais pesssoas trabalhariam também. Provavelmente todas as pessoas poderiam estudar. Talvez todas as pessoas pudessem desfrutar dos prazeres superiores da simplicidade da vida. Que ela passa rápido, eu sempre acreditei. Pergunte a qualquer octogenario !
Alaise Beserra

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