quinta-feira, 4 de agosto de 2011

É tudo mentira e é tudo retrato

Primeiro, ele desenhou no chão uma pista de corrida, no formato de um círculo ("A forma exata não importa", ele explicou); em seguida, o grupo foi todo distribuido ao longo da pista. Não havia essa história de um, dois, três e já. Cada um começava a correr quando quisesse e parava quando achasse melhor, de modo que não era fácil saber quando a corrida tinha terminado. Esse é um trecho de Alice no país das Maravilhas. Dodó está explicando o que é uma "corrida de convenção". Em algum momento, na lógica do livro, alguém sempre mente e alguém sempre fala a verdade. Mas é bom lembrar que da mesma fonte e pessoa pode vir algo de fantasia e algo de realidade.


Nos nossos olhos, fixação. É importante desconfiar do retrato, da sombra das concepções. A certeza não pode ser imposta, embora dela se subtraia a sua segurança e afinal a lei. Dizem isso, dizem aquilo. Nunca se pode jogar fora o bebê com a água suja do banho. Tudo que é observável vale a pena ser considerado. Como diria a propaganda de cerveja: experimenta! Você nem tem mesmo que experimentar tudo ou respeitar tudo. São tantas ruas e casas, tantas coisas de cristal e a qualquer hora tudo pode se quebrar e se refazer. Nos disseram que haveria salvação, disseram que açucar é problema, disseram que existe anjo da guarda, disseram que cinema brasileiro é pornochachada, disseram que você é feio, disseram que tem que usar blush, disseram que droga mata, disseram que a democracia é melhor. Você vai acreditar em algumas dessas proposições, é uma coisa inevitável. Mas é como diria uma máxima do jornalismo: se a sua mãe disser que te ama, ainda assim verifique.


Os misticos já anunciam há algum tempo uma nova era, que virá pelo bem da humanidade. A notícia é boa, mas ainda não dá uma manchete. Folheando publicações de criticos da arte, achei um ensaio de Marisa Florido Cesar que afirma: nosso desígno comum não mais se realizará como o anunciado pelo projeto ocidental da história! Ela decreta que não haverá "emancipação da humanidade". Será que não? Eu prefiro acreditar que haverá o fim da infância, haverá novos céus, sim! E haverá nova terra, mas em seguida me lembro que esse é o meu filtro, essa é a minha ótica e se os outros me levarem ao seu cinema particular me emprestarão outras visões, se forem mais maravilhosas eu sim compro e se forem pessimistas eu não compro. Isso porquê para uma mente aberta o raciocínio que leva ao suícidio do pensamento não interessa muito. De todo jeito, é por isso que me preocupo tanto em conhecer as religiões: suas crenças são a sua forma de endereçamento, é claro que tem gente que quer mesmo é se perder. No final das contas você é um juiz e pode ser justo ou cruel, mas é certo que sempre estará julgando. Em determinado momento, depois de ouvir muitas coisas odiosas e de também dizer as suas falas, gritou Alice: Ai meu Deus, acho que ofendi o rato de novo.


Alaise Beserra

alaise30@hotmail.com



Um comentário:

  1. A mídia ostensiva e reificante diz: "Tudo que é observável vale a pena ser considerado." Já eu, vou pelo caminho contrário: toda minha vida preferi o INOBSERVÁVEL, o mistério, aquelas "coisas" que existem entre o céu e a Terra das quais falava Shakespeare, que nossa vã filosofia passa loooonge de entendê-las. É preciso ter coragem e ousadia para entrar neste terreno, e uma boa dose de vinho é claro! kkk Eu quero mais é mergulhar com Dionísio e Narciso neste retrato, imagem, paisagem, poesia, filosofia, anyway! tudo é vida velada, tudo é ilusão! Meu caro inquieto Nieztsche já perguntava às vésperas de sua loucura: "Quanto de verdade o teu espírito suporta?" (...) Enfim minha cara amiga, boas doses de ilusão é o que alimenta a veia viciada dos dias! Caia para dentro do teu sonho e VIVA!!! "¿Qué és la vida? Un frenesí, una sombra, una ficción... El mayor bien és pequeño pq la vida és sueño... ¿Y los sueños? Sueños son!" ;)

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